quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O que mais apodrece a minha existência é o precisar, é o mendigar da misericórdia alheia.
É ter que engolir o "mel", sabendo da maldição de bebê-lo, sabendo que a essência desse mel é o veneno que há no egoísmo de ser humano.
E sendo eu o de sangue doente ...
Sendo eu o resgaste de um remoto abandono ...
Eu o mendigo de qualquer afeto ...
Sendo eu o sedento do veneno ...
Sendo eu o inocente que aceita qualquer gota como cura, como a gota que faltava num copo vazio ...
Sendo eu o último desejo de uma fonte ...
Sendo eu a fonte de qualquer desejo ...
Sendo eu qualquer desejo de uma fonte transbordando ...
Sendo eu a última moeda apostada ...
Sendo eu o olhar de pedra e desilusão, de quem senta ao redor da fonte e não vê nem mesmo uma gota.



T.C Primavera.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Hoje nao quiz pintar nem desenhar,nem ao menos me distrair com qualquer conversa, me basta só o ouvir-se de longe as vozes, ora se encontrando, ora se batendo.
Como nao puder ver nada exatamente como foi, pensei que pudesse então, decidir por nao olhar.
não é de hoje que os meus olhos estão presos, não vi o que aconteceu, colocaram-os atráz de uma parede que os tapam inteiros, deixando-os numa caixa de vidro por onde passa luzes e visões difíceis de fixar-se.
Os meus olhos doentes, agora têm um buraco de fechadura imenso, por onde espiar!


T.C primavera.
Um olhar desapegado de todas as cores, pousou sobre os meus olhos, e já não sei se o desprezo que invade o meu peito é um desejo pela liberdade extrema e mansa, ou se há uma doença na minha bondade, e então a frieza também pacífica tomou de vez o meu espaço...
Quis correr desenfreada por um campo imenso em que eu me sentisse tão pequena a ponto de querer existir e pisar por sobre todo aquele universoe assim até cair de joelhos rasgando-me no atrito dos encontros.
E então o asco escarrado por todas as gargantas veio até a minha,
como um gole,
como um doce roubado,
como a última gota de um poço,
como o fechar dos meus olhos e o abrir de uma janela.


T.C Primavera.
Interessante.


Vamo-nos desinteressando a cada dia pelo nosso longíquo e suposto interesse,
mudemos a cor, o cheiro, o pensamento...
Quem sabe assim o encontro, não esperado, seja tão desinteressante a ponto de ser esse,
o nosso único interesse.


T.C 12 agosto.
O meu sentir é uma manhã mal dormida,
são as pegadas de uns pés que já foram,
é o fio de cabelo maldito numa pia batismal,
é a água derramada sobre um corpo,
são os lábios secos de um murmurio,
é o começo de um pensamento e o perder-se dele,
é um banco vazio numa praça cheia,
... é um embaraço à primeira vista,
é uma eterna tarde de domingo,
é o cheiro da chuva chegando,
... é a guarda do teu sono e a vigília do meu.


T.C 12 Agosto.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O meu amor não é meu, é de quem passar ...Sou uma pluma voando ao léo, não posso ser nem mesmo um pássaro, pássaros têm coração e eu só tenho pena.

(T.C) setembro nao floresceu.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

- Apagou uma criança!
explicou o motorista do ônibus sobre o motivo de estar fechado, o boteco da rodoviária ...
- Era neta da Dona.

Quando uma criança arrisca a vida é porque ela tem muitas delas guardadas nos bolsos.
Tem uma criança dessas que mora em mim, e me conta segredos, encanta meus ouvidos com uma canção de promessa:
"Vim em nome de gente
E de palhaço
De deus
E do diabo
O meu céu é sua glória
O meu inferno
O teu pesar ... "


T.C agosto.